null FMI prevê crescimento de 5,8% para a economia portuguesa em 2022

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No documento do Fundo Monetário Internacional (FMI) relativo ao “Staff Report for the 2022 Article IV Consultation”, publicado a 30 de junho, o FMI projeta um crescimento de 5,8% em 2022, constituindo uma revisão em alta em 1,3 p.p. face ao comunicado de maio, refletindo assim a recuperação do turismo e da procura interna no primeiro trimestre deste ano, apesar de se esperar que nos restantes meses a atividade seja negativamente afetada pelos efeitos desfavoráveis da procura dos parceiros comerciais, condições de troca adversas, custos mais elevados de energia e materiais e um clima de menor confiança.

A médio prazo, é expectado que o crescimento convirja para cerca de 2%, suportado pelos investimentos e pela implementação de reformas. No entanto, caso os riscos de alavancagem das sociedades não financeiras e de empresas zombies não sejam resolvidos, o crescimento da Produtividade Total dos Fatores (PTF) poderá ser enfraquecido devido à eficiência da afetação e perdas de produtividade. 

Para a inflação é projetada uma média de 6,1% em 2022 (mais 0,1 p.p. que no comunicado de maio) baixando para 3,5% em 2023 à medida que o crescimento do preço da energia suaviza e as disrupções do lado da oferta são resolvidas. No médio prazo, a inflação deverá desacelerar para 2%, uma vez que se esperam que os efeitos de segunda ordem sejam contidos e as expetativas se mantenham ancoradas.

Relativamente ao défice orçamental, este deverá melhorar para 2,2% do PIB no ano de 2022, refletindo a melhoria da recuperação e o levantamento das restantes medidas de combate à COVID-19, ainda que existam medidas adicionais de resposta aos preços mais elevados da energia. Apesar do relatório referir como positivos os gastos em políticas ativas do mercado de trabalho, habitação social, educação e digitalização do setor público, é realçado que os planos relativos à redução fiscal geral e os subsídios às famílias devem ser melhor direcionados. De igual forma, medidas de base ampla sobre energia, como a redução de preços, limites para os preços da eletricidade e corte nos impostos devem ser substituídas por apoios temporários direcionados às famílias mais vulneráveis e empresas viáveis.

O FMI avisa ainda que as medidas de expansão na despesa corrente devem ser compensadas com medidas iguais ao longo do tempo, sendo que a partir de 2023 deve ser implementado um ajustamento fiscal gradual e estável, favorável ao crescimento que permita melhorar a composição da despesa e fazer face pressões fiscais de longo prazo para aliviar os riscos de dívida pública.

De forma geral, os riscos permanecem inclinados para o lado negativo num cenário de incerteza condicionado por novas ondas de vírus e pela evolução da guerra na Ucrânia. Uma normalização mais rápida da política monetária e a implementação de condições financeiras mais restritivas podem prejudicar o crescimento e a posição fiscal, enquanto que o fim das moratórias pode originar maiores insolvências, diminuindo o investimento e o capital bancário. A dívida pública permanece em níveis elevados, sendo que pode ser potencialmente afetada pelas ligações entre o setor público, privado e financeiro. Além disso, uma execução mais lenta dos fundos do PRR pode enfraquecer a recuperação. 

Por outro lado, os estrangulamentos do lado da oferta, os preços mais elevados das matérias-primas e as pressões salariais poderão levar a uma inflação mais elevada que enfraquece as perspetivas de crescimentos.