null Banco de Portugal revê em alta o crescimento da economia portuguesa no ano de 2023, motivado pela evolução favorável do turismo

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No dia 24 de março, o Banco de Portugal publicou o Boletim Económico de março, o qual apresenta um crescimento da economia em 2023 igual a 1,8%, sendo uma revisão em alta de 0,3 p.p. face ao Boletim Económico de dezembro e refletindo uma evolução mais favorável das exportações de turismo, e em menor grau, do consumo privado no início deste ano.

No entanto, tal representará uma desaceleração face ao crescimento de 6,7% no ano de 2022, traduzindo o menor contributo do consumo privado e das exportações. Nos anos seguintes (2024 e 2025), projeta-se um crescimento de 2%, em que se dissipam os constrangimentos nas cadeias de fornecimento e a incerteza, enquanto que o rendimento real das famílias e o recebimento de fundos europeus contribuem positivamente para a evolução do PIB.

Com efeito, o consumo privado é a componente da despesa para a qual se prevê o menor crescimento, de apenas 0,3% (no ano de 2022 tinha sido de 5,7%), num contexto de menor subida do rendimento disponível real e de recuperação da taxa de poupança. Fatores como a alta inflação, aperto das condições financeiras (ainda que mitigadas parcialmente por apoios públicos) devido à subida das taxas de juro deverão condicionar a evolução ao longo deste ano. Nos anos seguintes, o consumo privado deverá acelerar para 1,2%, em média, à medida que os preços abrandam e o crescimento dos salários por trabalhador contribuem para um aumento do rendimento disponível real de 1,8%, em média, nos anos de 2024-2025.

O investimento é a componente que apresenta a menor desaceleração, passando de 2,7% em 2022 para 2,3% em 2023, acelerando posteriormente em 2024. Esta evolução está justificada com a entrada de fundos da União Europeia, nomeadamente do PRR, com o investimento público a ter um forte impulso em 2023. Por sua vez, o investimento empresarial deverá crescer 0,9% em 2023, num ambiente de aperto das condições de financiamento, abrandamento da procura global e condições de incerteza. Apesar disso, a partir da segunda metade do ano, o investimento deverá apresentar um maior dinamismo na sequência do abrandamento gradual dos custos de produção e do desvanecimento dos constrangimentos nas cadeias de fornecimento. O investimento em habitação será particularmente afetado pela subida das taxas de juro, projetando-se uma redução de 4% em 2023.

O consumo público deverá crescer 1,8% em 2023, desacelerando face ao ano anterior de 2,4%, devido ao menor crescimento do número de funcionários públicos.

Após um crescimento expressivo de 16,7% em 2022 (o mais expressivo entre as componentes da despesa), as exportações deverão desacelerar para 4,7%. No caso das exportações de bens, estas deverão crescer 1,2% (após 5,1% em 2022) e acelerar nos anos seguintes, refletindo o desvanecimento dos constrangimentos nas cadeias de valor globais e um quadro internacional mais favorável. No caso das exportações de turismo, estas apresentarão um maior dinamismo, com um crescimento de 14,9% em 2023, beneficiando do efeito positivo associado à realização da Jornada Mundial da Juventude. Já as importações crescem 2,4% em 2023, acelerando nos anos seguintes.

Após alcançar 8,1% no ano de 2022, a inflação desacelerará nos anos seguintes: 5,5% em 2023, 3,2% em 2024 e 2,1% em 2025. Esta desaceleração reflete o contexto externo, pautado igualmente por atenuação dos preços das matérias-primas em que se procede à resolução gradual dos constrangimentos nas cadeias de fornecimento de bens. O alívio dos preços será mais marcado nos produtos energéticos, sendo que excluindo este agregado, os preços no consumidor deverão aumentar 6,7% em 2023. Nas restantes componentes, o processo de alívio será mais lento, devido a maiores pressões internas.