null Banco de Portugal revê em baixo projeções da economia portuguesa em 2024 para 1,2%

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As previsões do Boletim Económico de dezembro, publicadas pelo Banco de Portugal, apresentam estimativas de crescimento económico em 2023 inalteradas face às previsões de outubro (2,1%), revendo, no entanto, em baixa as previsões para 2024 em 0,3 p.p., para 1,2%. A esta revisão em baixa para o ano de 2024 está associada a correções negativas no caso do consumo (privado e público), da FBCF (formação bruta de capital fixo) e das importações.

No caso do consumo privado, este deverá crescer de forma moderada, devendo o crescimento passar de 1% em 2023 e 2024 para 1,7% em 2025 e 1,5% em 2026. Este crescimento enquadra-se num contexto de ganhos do rendimento disponível real das famílias, que após acelerar para 3,2% em 2024, deverá abrandar para 1,6% nos anos seguintes, resultante de aumentos progressivamente menores dos salários nominais e do emprego (prevendo-se que aumente 0,1% em 2024 e 0,3% em 2025 e 2026). As medidas do Orçamento de Estado para 2024, relativas à redução dos impostos sobre as famílias e ao aumento das prestações sociais, são destacadas como tendo um contributo significativo para o aumento do rendimento disponível.

Após um crescimento previsto de 0,9% em 2023 para o investimento, este deverá ser mais forte nos anos seguintes (3,9%, em média nos três anos seguintes), num cenário em que a componente empresarial beneficia da recuperação da procura global e das necessidades de investimento relativamente à transição digital e energética assim como do desaparecimento gradual dos efeitos da política monetária restritiva. A entrada de fundos europeus beneficiará tanto a componente empresarial como pública.

Na componente externa, as exportações sofrerão uma desaceleração em 2024 (devendo o crescimento reduzir-se em 1,9 p.p. para 2,4%), voltando a ganhar força em 2025 (4%). Na desagregação entre bens e serviços, o Banco de Portugal refere que no ano de 2023, a componente de bens terá registado uma quebra devido à fraqueza dos principais parceiros comerciais, enquanto a componente de serviços deverá registar taxas de variação mais moderadas no período de 2024 a 2026. Ao longo do horizonte de projeção, Portugal exibirá uma capacidade de financiamento de cerca de 3,6% do PIB, em média. Esta capacidade reflete o excedente da balança de bens e serviços, associado ao efeito de volume positivo nos fluxos de turismo e à recuperação nos termos de troca com a redução dos preços das matérias energéticas, como também a evolução positiva na balança de capital, que beneficia do aumento de transferências líquidas de fundos no âmbito do PRR e do atual programa de fundos comunitários.

Relativamente à inflação, medida pelo índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC), o Banco de Portugal procedeu a uma revisão em baixa no horizonte temporal de 2023 a 2025 face às previsões de outubro. Em 2023, a inflação deverá atingir os 5,3%, passando para os 2,9% em 2024, e atingindo o objetivo de 2% no ano de 2025. Apesar da redução média prevista para o ano de 2024, a instituição refere que a inflação deverá apresentar valores mais elevados face aos 2,6% previstos no último trimestre de 2023, resultante de pressões sobre bens energéticos (com um aumento esperado da eletricidade no início do ano e efeitos base sobre os combustíveis) e alimentares (com o fim do IVA zero no final do presente ano). No caso da inflação subjacente (que exclui os produtos energéticos e alimentares), espera-se, igualmente, uma trajetória descendente, traduzindo os efeitos desfasados da redução de custos e do aperto da política monetária, atingindo valores próximos dos 2% por volta de 2025.

Nas finanças públicas, o Banco de Portugal estima um excedente orçamental de cerca de 1,1% do PIB em 2023, o que contrasta com um défice de 0,1% do PIB projetado no cenário de junho, em virtude do desaparecimento de medidas relacionadas com a pandemia e do contributo positivo cíclico. Para o ano seguinte, o excedente orçamental cai para 0,1% do PIB devido ao abrandamento da atividade económica e à implementação de uma política expansionista. A dívida pública prosseguirá a trajetória descendente, no horizonte temporal, devendo ficar abaixo de 100% do PIB em 2024 (96,8%).

Os riscos associados ao cenário do Banco de Portugal encontram-se do lado negativo, sendo destacados da parte externa: um agravamento das tensões geopolíticas, com impacto sobre os preços das matérias-primas, uma recuperação mais lenta do comércio mundial, um impacto superior do aperto das condições financeiras e uma maior persistência da inflação.  A nível interno, os riscos estão associados com a incerteza ao nível da condução da política económica e atrasos na execução dos fundos europeus.